O Brasil não está preparado para o sucesso, diz inventor

Após 26 anos da sua invenção – o Construcell, Reginaldo Marinho continua na tentativa de obter reconhecimento

Feicon O Brasil não está preparado para o sucesso, diz inventor

Reginaldo Marinho, natural de Sapé, cidade com pouco mais de 52 mil habitantes, localizada na microrregião da Mata Paraibana e conhecida como a cidade do abacaxi, conta que desde criança gostava de criar coisas e sempre se destacava quando o assunto era invenção.

Aos 17 anos de idade, o ainda adolescente ingressou na faculdade de engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com apenas um ano de curso, a própria faculdade o convidou para dar aula de geometria descritiva, tal era a inteligência do jovem prodígio. Porém, como conta Marinho, abandonou o curso por não se adaptar, segundo ele, à monotonia acadêmica e à falta de criatividade, área em que Reginaldo se destacava.

Foi nessa época que ele resolveu mudar-se para Brasília, onde decidiu voltar à faculdade, mas agora em um novo curso – o de arquitetura, ministrado pela Universidade de Brasília (UnB). Outra vez, desiludido com o mundo acadêmico, Reginaldo optou por trancar o curso.

Há 22 anos, o inventor concedia uma entrevista ao jornalista Antônio Lisboa Morais, do Jornal Opção, para falar sobre as dificuldades enfrentadas em fazer com que a sua mais nova invenção fosse vista como uma obra de grande relevância para a construção civil do Brasil.

Estamos falando do construcel. Em resumo, trata-se de uma manifestação da matemática aplicada na engenharia, através da Geometria Descritiva. É um sistema construtivo que pode ser usado na cobertura de grandes galpões, ginásios, hangares para aeronaves e estádios de futebol , por exemplo.

Como informa o inventor, o seu invento além de tornar as construções menos onerosas – ainda contribui para a questão da sustentabilidade do planeta, pois consiste em retirar praticamente todo plástico pet que está espalhado mundo a fora.

Sua obra, apesar de ter tido reconhecimento internacional, como em Genebra e Londres, contudo, no Brasil nunca foi devidamente reconhecida. A ideia do inventor é que através da sua invenção, o metal e o concreto passe a ser substituído por plástico, uma alternativa econômica e sustentável.

20 anos depois

Depois de mais de duas décadas, a reportagem volta a falar com Reginaldo e a saga do pesquisador e inventor continua. Reginaldo já viajou o mundo para tentar fazer sua obra ser conhecida, mas ao que parece; foi tudo em vão, pelo menos até o momento. Para Reginaldo, o Brasil não valoriza seus artistas e “gênios”. “Aqui é um País de invejosos, o Brasil não está preparado para o sucesso”, afirma.

Com 26 de peregrinação em sua terra e fora dela, o Construcell ainda continua sendo uma incógnita, não porque o invento seja ruim, mas por falta de incentivo e do desprezo que os governantes brasileiros têm com seus inventores, ressalta Reginaldo. O inventor conta que embora tenha uma alternativa tecnológica para fazer uma nova patente, somente irá fazê-la quando tiver uma definição explícita.

Reginaldo esclarece que o Construcell veio para revolucionar o ramo da construção civil, não somente no Brasil, mas no mundo. “Será a primeira construção do mundo inteiramente em plástico, com total transparência. Ainda não existe na literatura algo assim”, sublinha. Reginaldo ressalta que as construções não seriam erguidas com garrafas pet e sim com o material pet que é retirado dessas garrafas.

O inventor se diz visionário, haja vista que a sua invenção, apesar de ter sido projetada há quase três décadas, ainda continua sendo vanguardista, pois nada nem parecido foi inventado até hoje, de acordo com ele, quando o assunto é construção e contribuição para um mundo sustentável. Reginaldo diz que é uma vergonha o que tem passado nesses anos. “Não importa que eu tenha sido aprovado em um edital do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC), em primeiro lugar com nota dez em grau de inovação. Eu debito todo esse desprezo às instituições brasileiras às tecnologias nacionais. É um absurdo o prejuízo acumulado pelo país, é incalculável”, desabafa.

Reginaldo lembra que sua invenção poderia solucionar um déficit que existe em relação a armazenagem de grãos que é de mais de cem milhões de toneladas. Segundo o inventor, o setor sofre altos prejuízos por falta de galpões para guardar a safra, sendo muitas vezes obrigado a vender por preços inferiores ao de mercado. “A minha invenção resolveria todo esse problema e ainda com custo baixíssimo, e Goiás poderia se beneficiar do Construcell”, frisa.

Reginaldo lembra que o Brasil não tem um ganhador do Prêmio Nobel, não por falta de mentes brilhantes, mas porque quando aparece uma candidatura com potencial, o próprio País sabota, colocando obstáculos. “Somos uma nação de invejosos que não torce pelo bem do outro, que não suportam ver o outro no pódio. Já dizia Tom Jobim, que no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, relata, com indignação.

Ele menciona o ex-presidente da Embraer, Dr Ozires Silva, que uma certa feita, quando participava de um jantar em Estocolmo, na Suécia, junto com três integrantes do comitê que faz a indicação para o prêmio Nobel. Aproveitando a oportunidade, Ozires questionou-lhes o porquê de o Brasil ainda não ter ganhado um prêmio Nobel. Depois de algum tempo de silêncio, um membro resolveu responder:

“Vocês brasileiros são destruidores de heróis. Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente com o que ocorre com os de outros países, todo mundo joga pedra. Não tem apoio da população. Parece que um desconfia do outro ou tem ciúme.”

O pesquisador e inventor lembra a trajetória do padre gaúcho Roberto Landell de Moura, em 1900. Landel foi o inventor do rádio receptor, porém, nunca obteve o reconhecimento do governo brasileiro. Nem mesmo a transmissão feita na avenida paulista, foi o suficiente para que despertasse o interesse de empresários e do governo. Pelo contrário, Landell era chamado de louco. “O resultado foi que em 1909, o físico italiano Guglielmo Marconi, mostrou para o mundo o rádio receptor, vindo a ganhar o Prêmio Nobel naquele ano”, pontua.

No entanto, a despeito do desinteresse dos governantes, o inventor acredita que sua obra ainda pode decolar. “Só preciso encontrar o parceiro certo. Ainda não desisti, entretanto, não procurarei mais ninguém”, desabafa. Reginaldo revela que tem a intenção de buscar contato com algumas organizações internacionais. “O Brasil continua não valorizando seus inventores e com isso perdendo muitos talentos e riquezas. O brasileiro é inteligente, o Brasil é rico em insumos, só falta apoio”, afirma.

Reginaldo avalia que o Brasil não está preparado para o sucesso e não ver perspectiva de mudança do panorama atual. Para ele, o princípio da melhora é a educação, todavia, o que se ver é um declínio na educação brasileira. “A qualidade da educação brasileira nas últimas décadas, é debilitada e espantosa. Por tanto, não vejo reversão. Estou desacreditado do meu país”, exprimi.

O inventor está com 74 anos de idade e se diz um exilado em sua própria casa, na Chapada Diamantina (BA). Indagado se ainda continua inventando coisas para o bem da humanidade, Reginaldo conta que está desestimulado a produzir. O último dos seus inventos foi justamente o Construcell.

Novo projeto

Reginaldo Marinho comunica que criou um projeto denominado Parque Brasil, dentro do qual será instalado um Museu de Ciência e Tecnologia e uma Central de Tecnologia Nacionais. “Esse parque poderia ser construído na zona rural de Valparaíso, em Goiás, que será um espetacular ponto turístico. Esse será meu grande desafio de agora em diante, tentar mudar esse cenário perverso”, ressalta.

Ele reitera que Goiás não estava na lista dos estados preferenciais, sendo que São Paulo e o Distrito federal eram os mais cotados, mas como o DF está dentro de Goiás, Marinho reconhece que Valparaíso será ideal. “Esse é um projeto de grande utilidade para o Brasil e por ele faço qualquer coisa”, sublinha. Para tanto, Reginaldo informa que está disposto a sentar com o Governador Ronaldo Caiado (UB), se for o caso.

A reportagem anterior, feita pelo jornalista Antônio Lisboa Morais, publicada em abril de 2001.

Jornal Opção, Goiânia, 1 a 7 de Abril de 2001.

O pesquisador paraibano Reginaldo Marinho critica autoridades do governo FHC de terem rejeitado sua proposta de tecnologia para a área de construção civil

ANTÔNIO LISBOA MORAIS

O Brasil parece padecer de um crônico complexo de inferioridade. Pelo menos em relação ao imaginário dos donos do poder. Esta é a conclusão do inventor paraibano Reginaldo Marinho, depois de percorrer corredores de ministérios do governo Fernando Henrique Cardoso e encontrar as portas fechadas. Esbarrando na má vontade de uns e na desconfiança de outros auxiliares de FHC, Reginaldo Marinho decide apresentar sua descoberta — uma nova tecnologia para a construção civil — à comunidade científica na Itália, onde já desperta o interesse de empresários e de prefeitos. Mas não deixou por menos, resolveu manifestar ao próprio presidente Fernando Henrique Cardoso a sua decepção com as autoridades brasileiras. “Com todo respeito, Excelência, acabou a minha paciência. Depois de bater em tantas portas, todas fechadas e bem travadas, optei novamente pelo exílio voluntário. Na primeira vez, como Vossa Excelência o fez, foi por discordar de uma ditadura militar e agora por discordar de uma ditadura que impede o desenvolvimento nacional”, desabafou, em correspondência de 21 de setembro de 1999.

Aos olhos do leigo, o invento de Reginaldo Marinho passa a idéia de um mero triângulo de plástico transparente, à semelhança dos sinalizadores de defeito em veículos. O criador dá o nome de Construcell ao seu feito. Trata-se, na verdade, de um módulo de policarbonato, que pode receber placas fotovoltaicas em toda a sua superfície. O dispositivo, por ser transparente, permite a injeção de gás neon, conferindo à construção um efeito luminoso incomum. Um dos elementos que compõem a peça é um arco de compressão, um conhecimento que vem dos povos etruscos e foi muito utilizado na construção de catedrais. “Como a engenharia conhece apenas três modalidades de estrutura, que são madeira, concreto e metal, essa estrutura é, além de inovação tecnológica, uma novidade acadêmica porque não existe nenhuma literatura mundial sobre estrutura de plástico”, detalha o inventor.

Construção Limpa — O invento de Reginaldo Marinho é utilizado na construção de armazéns, hangares, silos, ginásios esportivos e escolas, entre outras edificações. “É a arquitetura do futuro porque leva para a obra exatamente o número de peças que vai utilizar. Não tem sobras de materiais. Terminada a construção, o lugar fica limpo, após a colocação da última peça. O módulo está sintonizado com duas tendências mundiais: a energia solar, pois utiliza a placa fotovoltaica, e a reciclagem de plásticos”, explica. Reginaldo Marinho diz que desenvolveu o Construcell em 1997. No ano seguinte registrou a patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI, órgão do Ministério de Desenvolvimento). O objeto foi alvo de três conferências de Reginaldo Marinho na Universidade de Brasília (UnB).

Como forma de chamar a atenção do governo federal para a importância dessa nova tecnologia, o inventor apresentou, em setembro de 1998, sua criação ao Ministério da Agricultura. Nesse campo, o dispositivo poderia resolver, num piscar de olhos, a deficiência de armazenagem do governo, que é superior a 10 milhões de toneladas de grãos. Mesmo com parecer favorável de técnico do Ministério da Agricultura, não houve interesse no desenvolvimento do protótipo. Apesar disso, Reginaldo Marinho não se abateu. Protocolou ofício em 24 de agosto de 1999 ao então ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca. Não obteve resposta. Se o caminho passa pela política, que se busque essa via, raciocinou o inventor. Buscou a ajuda dos deputados Eduardo Jorge (PT/SP), Marcondes Gadelha (PFL/PB), Walter Pinheiro (PT/BA) e Philemon Rodrigues (PMDB/MG), que teriam gasto saliva e tinta sobre papel, junto aos ministros Rafael Greca, Ronaldo Sardenberg (Ciência e Tecnologia) e José Sarney Filho (Meio Ambiente), igualmente sem sucesso.

Kafka Explica
— Um enredo intrigante, cheio de mistérios, surpresas e passagens mirabolantes. Digno de Franz Kafka (escritor alemão nascido na Tcheco-Eslováquia — 1882-1924), como define o próprio inventor. Assim foi a via-crúcis que Reginaldo Marinho enfrentou para mostrar a auxiliares de FHC que seu invento é importante para o Brasil, inserido no mundo globalizado de muita competição. O grande momento para exibir o feito brasileiro era a Exposição de Hannover (Alemanha), que acontecia em junho de 2000. Em janeiro desse ano, a cenógrafa Bia Lessa, responsável pela montagem do stand do Brasil, ainda não havia definido o seu projeto, uma vez que tinha grande expectativa em relação à proposta revolucionária de Reginaldo Marinho.

No dia 25 de maio de 2000, três dias antes da abertura da feira alemã, a assessora da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Marisa Borges, envia e-mail para Reginaldo Marinho, exatamente num endereço eletrônico que o inventor não utilizava havia mais de dois anos. A mensagem tinha como objetivo “colaborar” com a divulgação da tecnologia de Reginaldo Marinho na Feira de Hannover. Descoberto o comunicado, um tanto ao acaso, o criador do projeto de nova tecnologia responde ao Ministério da Agricultura. Diz que, já que havia o interesse de ajudar, que se localizasse o projeto que propunha a construção de um protótipo no valor de 400 mil reais, já com parecer técnico favorável. “Quando perguntei para a assessora como tinha conseguido um endereço eletrônico que eu não mais utilizava, ela, muito embaraçada, respondeu que foi o resultado de uma longa pesquisa feita por solicitação do Dr. Paulo Henrique Cardoso (filho do presidente Fernando Henrique). O chefe dela, o secretário-executivo Márcio Fortes, era membro-substituto do comissariado. Como essa informação revelou que o e-mail com o convite tardio tinha sido feito por orientação do filho do presidente da República, não aprofundei o assunto para não criar defesas posteriores”, assinala Reginaldo Marinho.

Academicismo Viciado — Depois de tantas buscas inúteis, Reginaldo Marinho se deparou verdadeiramente com os bastidores do poder. Um submundo real longe do cenário que normalmente a mídia exibe. O desencanto esfriou as pretensões do inventor em relação às autoridades do Executivo federal e serviu para reformular os conceitos de Reginaldo Marinho quanto ao mundo real das invenções no Brasil. “O sistema acadêmico brasileiro é viciado em publicação de teses. Os recursos são pulverizados em estudos que muitas vezes são de conhecimento universal e, quando o estudo é inédito e exclusivo, ao ser publicado nas revistas internacionais, permite o desenvolvimento de tecnologia em países estrangeiros financiadas com recursos do Tesouro brasileiro”, acusa.

Reginaldo Marinho diz que o maior exemplo de descaso dos setores acadêmicos e das autoridades brasileiras quanto aos inventos é o chamado Relatório Inventivo Nacional, do Ministério do Desenvolvimento. Em nove anos, 14 instituições de pesquisa apresentaram 112 pedidos de patente dos quais 60 por cento são do Instituto Paulista de Tecnologia (IPT). Os outros 40 por cento levam à média de 0,3 patentes por instituição, com recursos da ordem de 10 bilhões de dólares anuais. “Esses recursos são aplicados diretamente em pesquisas e bolsas, mas quando se refere à tecnologia, não existem linhas de financiamentos”, critica o inventor.

Cultura do Descaso — O clichê “santo de casa não faz milagre” não teria nascido por acaso. Para Reginaldo Marinho o descaso com as invenções brasileiras está na própria cultura, sobretudo no cotidiano dos setores oficiais responsáveis pelo apoio e desenvolvimento dessas tecnologias. “Esse governo não se interessa por inventos nacionais. Temos exemplos clássicos como o avião. A coisa é tão absurda que o presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos, reconheceu, no Itamaraty, que o inventor do avião foi o brasileiro Alberto Santos Dumont. Nenhum veículo deu a informação, a não ser a Radiobrás que transmitia ao vivo. O padre Landel de Moura desenvolveu experiências sobre o rádio receptor na Avenida Paulista e em Jabaquara. Isso seis anos antes de Marconi (o físico italiano Giuglielmo, Bolonha, 1874, e Roma, 1937, Prêmio Nobel de 1909) ter sido aclamado descobridor do rádio”, critica.

A lista de inventores nacionais cujas criações não decolaram por falta de incentivo oficial é extensa. Uma das mais recentes apontadas por Reginaldo Marinho é a do pesquisador Nélio Nicolau (funcionário aposentado da Telebrasília), criador do bina, dispositivo que permite identificar o número do telefone que originou a chamada. Segundo o inventor, esse é um clássico caso de desatenção das autoridades em relação à criação tecnológica no Brasil. Hoje, o bina movimenta um mercado de 8 bilhões de dólares, apesar da falta de apoio oficial. O desprezo para com inventores brasileiros gera às vezes situações cômicas. Reginaldo Marinho recorda-se de ter ouvido de conhecidos engenheiros algo assim: “Seu projeto merece a minha assinatura”. Ele acredita que o Brasil não está mesmo preparado para o sucesso. Só para a fracassomania.

Vilão ambiental
O Construcell de Reginaldo Marinho desponta como um ingrediente futurista e politicamente corretíssimo: ele possibilita a reciclagem de plásticos com larga utilização na construção civil. A esse respeito, conta o inventor, foram realizados estudos no Instituto de Química da UnB sobre o polietileno tereftalato (PET). Trata-se da resina com a qual são fabricadas as embalagens de refrigerantes. A propósito, essa liga transformou-se numa espécie de vilão mundial do meio ambiente. Na verdade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) proíbe a reutilização de plástico reciclado em embalagens de alimentos porque eles contêm microorganismos que podem transmitir doenças, observa o inventor.

A espinhosa caminhada de Reginaldo Marinho incluiu também a Coca-Cola, em Brasília. Segundo ele, o diretor de Relações Institucionais da empresa, Jacques Correia, teria achado interessante o projeto da construção de plástico. Tanto que teria também determinado uma avaliação do invento. “A Coca preferiu o projeto de reciclagem de plástico para reutilização, abandonado na Europa. Entregou-o ao deputado federal Gabeira (Fernando Gabeira, líder do Partido Verde, Rio de Janeiro), na Câmara Federal, que embarcou nessa”, critica. O projeto consiste de uma espécie de cilindro destinado à fabricação das garrafas de refrigerante. Ele prevê uma camada de plástico virgem entre duas camadas de plástico reciclado. “A impermeabilidade do plástico, na verdade, não existe. Os micróbios podem ultrapassá-lo e contaminar o conteúdo da garrafa. Por que não se tem garrafa de plástico de cerveja e de vinhos? Existe uma perda. A cerveja perde gás e o vinho se oxida”, analisa. O único ponto em comum entre o Construcel e a embalagem de refrigerante, destaca o inventor, é a composição plástica. Em termos ecológicos eles constituem antítese. (Antônio Lisboa Morais).

Invento foi para a Itália

Sentindo-se rejeitado em seu próprio país, o paraibano Reginaldo Marinho foi buscar refúgio na Itália. De lá, sua invenção tem repercutido. Rendeu ao pesquisador medalhas de ouro no 28º Salão de Invenções de Genebra (Suíça) e na BBC Tomorrow’s World Live (Londres), respectivamente em abril e em junho de 2000. O prefeito da cidade de Buccinasco, Guido Lanati, decidiu utilizar a tecnologia de Reginaldo Marinho na construção de um ginásio de esportes.

Nascido em Sapé (PB), Reginaldo Marinho, um sósia do ator Sean Connery, ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), aos 17 anos. Aos 18 foi contratado para dar aulas de geometria descritiva, na mesma faculdade. Abandonou o curso no 3º ano: “Por não me adaptar à monotonia acadêmica e à falta de criatividade do curso”. Foi para Brasília, onde estudou arquitetura na UnB, encontrando a universidade totalmente desfalcada de seus melhores professores, após a invasão de 1968, em pleno regime militar. Outra vez desencantado com o mundo acadêmico, deixou o curso e foi dedicar-se à publicidade. Atuou como fotógrafo e jornalista.

Atualmente, Reginaldo Marinho mora na Europa. Divorciado, dois filhos, trabalhou na Interview de Madri, onde fotografou a abertura espanhola. O Senado Federal publicou o livro Espanha Via Democrática, com fotos de Reginaldo Marinho, em homenagem ao ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González. De passagem por Goiânia, onde fez palestra, a convite da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Reginaldo Marinho está exercendo a sua veia de consultor de marketing. Atualmente está desenvolvendo contatos com empresários italianos para buscar uma abertura na Europa para produtos brasileiros como carne, couro, café e trigo. Já manteve encontro com representantes de 36 hipermercados e 65 supermercados que manifestaram interesse nos produtos de Goiás. É uma espécie saudável de vingança que o inventor faz para com o país (ou algumas autoridades) que o desprezou. (A.L.M.)

Gabeira desconhece projeto

O deputado federal Fernando Gabeira não falou à reportagem, por estar acompanhando o caso do afundamento da plataforma P-36 da Petrobrás, no Rio de Janeiro. No entanto, sua chefe de Gabinete, Jaqueline Martinelli, em Brasília, assegura que o deputado do Partido Verde desconhece o projeto de interesse da Coca-Cola, que estaria no Congresso Nacional, e que teria sido priorizado em detrimento do Construcell, conforme afirmação de Reginaldo Marinho. A assessora, por cujas mãos passam todos os projetos de Fernando Gabeira, observa que a única iniciativa do parlamentar em relação à reciclagem de lixo, no momento, é o Projeto de Lei nº 3.750/97, que estabelece normas para a destinação final de garrafas plásticas e sugere outras providências.

A reportagem do Jornal Opção ouviu a assessora da Secretaria-Executiva do Ministério da Agricultura, Marisa Borges. Ela não quis falar sobre a acusação (de omissão em relação à participação do inventor na Feira de Hannover) de Reginaldo Marinho. Mas indicou o assessor de imprensa “Doutor Miguel”, do Ministério da Agricultura. Apesar de várias tentativas (via telefone), não foi possível falar com o assessor Miguel. Da mesma forma, o diretor de relações internacionais da Coca-Cola, em Brasília, Jack Correia, não deu retorno às ligações. (A.L.)

Compartilhe esse conteúdo